Sempre me canso de mim. Olho à minha volta e só vejo recordações. Uma terna claridade (ou será obscuridade?) invade o meu quarto e me rodeia de mansinho. Já reparei várias vezes: vem sempre acompanhada do silêncio. Nunca soube o porquê de tal acontecimento. É uma luz difusa, lenta, como que surgindo o medo e com ela, um silêncio em sua forma opaca; algo que nada traz a não ser paz. Mas trazê-la já é bom. E é nesses momentos que me sinto só. E sabem porquê? Porque não tenho com quem compartilhar esse momento. Algo que sempre desejei fazer um dia na minha vida: Compartilhar a minha solidão. Dizer a alguém: "Vê? Está ouvindo? A minha solidão está aqui, é isto que vive aqui comigo. Entende?" Mas nunca consegui e nunca o consegui porque nos momentos em que a solidão me visita eu nunca estou acompanhado; engano, estar acompanhado estou mas apenas de mim mesmo e dessa luz e desse silêncio. Já somos três. Fico cada vez mais perto dessa luz (ou será escuridão?) e deixo-me levar pelo barulho do silêncio que me invade. Nunca é tarde para experimentar novas sensações, só que esta já é demais, é minha conhecida e então apenas nos olhamos e nos aceitamos mutuamente. Nada mais fazemos senão partilhar aquele momento, uma divisão a três numa solidão solitária de um só.
Estendido nela e com o silêncio deitado a meu lado, olhamos o teto que lentamente se separa de nós em tons de cinza cada vez mais escuros; passo os braços pelo silêncio e aperto-o de encontro ao meu peito. Sinto a sua respiração lenta e tranquila; é um som simpático, eu sei, mas ao mesmo tempo ousado na medida em que invade o som das batidas do meu coração; e o silêncio deixa de ser silêncio para ser um baque surdo ritmado aqui, ao meu lado, deitado. No entanto, continuo abraçado a ele e ele sente-se bem porque recebe carinho. É um abraço puro mas forte; ingénuo mas apaixonado. É apenas um abraço de silêncio compartilhado num leito de claridade que vai escurecendo em lentos tons como os do anoitecer. Porém, quando o teto se separa de nós e nos abandona, ficamos entregues à luz das trevas que entretanto nos envolveram, o silêncio se aperta contra mim e me sufoca.
O que até então era um prazer compartilhado passa a ser dor e algo que corrompe e a dor aumenta. As batidas do meu coração ultrapassam o silêncio. O teto já não existe, a obscuridade ainda persiste com mais intensidade. É como estar sem vida, sem morte e sem idade. Apenas habita em mim numa eterna cumplicidade. Respiro o espaço que me rodeia. E a escuridão cai sobre tudo e me envolve como uma teia. Já tenho mais uma companhia. Porque temos a necessidade de dizer que temos amigos, temos pessoas que estão á nossa volta, que conversamos com elas, contamos meia dúzia de segredos mas não falamos tudo? Nunca contamos nossos segredos por totalidade, nunca passamos a elas tudo que queríamos passar. Medo, vergonha ou não confiar cegamente? Existe a necessidade de ficarmos sozinhos e sentirmos a dor apenas pra nós mesmos e felizes são aqueles que têm com quem contar, alguém que possamos dizer: "Obrigado pelo seu apoio e por suas palavras, sinto-me bem melhor". Pois é. Nos dias de hoje cenas como esta são extremamente difíceis e o que vejo por aí são ilusões, e mais ilusões. Amizade é feita de gentilezas? Sim, porém não totalmente. Um agrado, uma palavra amiga ou palavras bonitas, nada disso muda, não te faz mais amigo ou menos, apenas conforta por milésimos de segundo e depois voltas a estaca zero como sempre. Todo mundo guarda pra si sua dor, por mais que seja amado, seja adorado por muitas pessoas, isso não muda o que você faz ou quem você é.
Viver na ilusão de que todos são amigos apenas por te tratarem bem é um engano completo. Acho que o que falta é a palavra "desabafo", ela morreu nos vocabulários devido aos atos falsos praticados por muita gente por aí afora e por consequência teremo mostrado que não se pode ou se deve confiar em todo mundo. Afinal de contas se não fosse por isso não precisaríamos de amigos e sim só da nossa solidão. Está ao nosso lado, nos escuta, e nos abrimos com ela. Sentimos toda a dor de uma angústia, de uma tristeza mas há momentos em que ficamos tão acostumados que tormamo-nos gélidos e insesíveis. Alguns vivem ainda com amigos á volta mas ocultam a maior parte de si e de seus verdadeiros sentimentos. Já outros são mais enfáticos e deixam claro que confiam apenas em si mesmos. É o mundo de hoje, e como sempre digo: Amizade e amigo, se tornaram banais nos dias atuais, pois as pessoas brincam de ser amigos. A solidão é o único caminho que muitos buscam para ficar longe de tanta sujeira. Se ninguém confia em você, porque você deveria confiar em alguém? É uma pergunta que levantaria várias respostas.
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