Por mais cético e rigoroso que eu venha a ser, sei que meus esforços não podem extinguir as esperanças, nem de mim, nem de quem me cerca. A esperança é espécie de apêndice do coração e da alma, uma extensão de nosso corpo que comporta as dores violentas e os dramas devastadores de nossa existência humana. É uma miopia intelectual grave imaginar que não se tem esperança alguma; é uma miséria espiritual tremenda acreditar que todas as soluções estão em nossas mãos e em nossa mentes: em nosso difícil tarefa de buscar a realização pessoal e se conhecer não podemos abrir mão de nossos artifícios, nem podemos ter a presunção de encarar a metralha da guerra de peito aberto, Somos o nosso oponente mais difícil, e devemos crer em nós mesmos, mas de modo algum devemos acreditar que em nós está a saída. O melhor a fazer é buscar nesse vasto mundo o elixir de novidades que pode satisfazer nossa sede de vida e conhecimento.
Por mais que nem todas as saídas estejam em mim, em eu mesmo, as esperanças estão todas em mim, estão no próprio sujeito, tal como escreve Terêncio. As esperanças surgem quando a realidade não poder ser enfrentada com armas visíveis e declaradas, e temos de minar os esforços da adversidade com o que temos de melhor: a ousadia e genialidade de colocar o destino em francos termos, e bater com toda a força, nas ideologias, idéias e filosofias que nos circunscrevem a ingratidão eterna. Devemos correr, impetuosamente, entre as lascas da realidade e os lapsos de nossa memória corroída.Simplesmente, a esperança é uma forma de manter nossa integridade, quando nossos olhos não podem ver nada além de uma cascata de sal, lágrimas e fogo, quando nosso coração só consegue gritar as heresias das paixões malfadadas e quando nosso corpo, cansado, tem de pagar as contas da existência, nem que seja oferecendo as vísceras e o sangue. Ter esperanças é inerente ao ser humano, é o mais perto que chegamos dos planos superiores da existência: Nietzsche disse que somos uma corda sobre o abismo atada entre o animal e o super-homem (talvez Deus), e imagino que a esperança é a parte mais perto da criatura divina, uma forma de mostrar que dentro dos nossos nervos, sangue e músculos de impuros humanos, há um pequeno resquício de luz e de pureza conduzindo sonhos.
Essa luz da esperança me cega, fazendo com que eu caminhe, desnorteado e incorruptível, em busca de ares melhores, pois eu, como todo ser humano, tenho fome de vida e devo pagar as contas da minha existência em nome da realização pessoal, buscando o autoconhecimento.
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